Não é de se
admirar que alguém mergulhado nos problemas que envolvem a logística não entenda
como o modal rodoviário resiste no Brasil. Afinal, temos uma infraestrutura
precária, atrasada e longe de investimentos significativos que venham realmente
trazer um alento ao setor. Entender os porquês dessa cadeia que envolve um
custo alto e uma extrema necessidade que vai além das questões da oferta e da
procura, nos conduz a um mergulho numa política de descaso, numa corrupção
desenfreada, numa falta de esperança dos cidadãos e até mesmo na perda de
tantas vidas que, sem escolha, se arriscam para ganhar a vida.
O transporte rodoviário de cargas é o
principal meio de escoamento da produção nacional e configura um importante
complemento para outros modais de transporte, pois no início e/ou ao final de
cada operação, seja no transporte aéreo ou aquático, o sistema de distribuição
por rodovias é imprescindível na coleta e/ou na entrega dos produtos, o que
representa uma parcela substancial dos problemas, apontados por especialistas,
que limitam o desenvolvimento da economia brasileira, já que dois terços dos
custos de um produto são de ordem logística, e trazem enormes dificuldades às
operações usuais das empresas limitando também as ações de melhoria contínua de
seus processos logísticos.
Pesquisas
coordenadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de transporte (DNIT) revelaram que apenas
11,1% da malha rodoviária do país era asfaltada e, desse percentual, dois
terços precisavam de manutenção. Esse modal que custa três vezes e meia mais do
que o ferroviário e nove vezes mais do que o fluvial, consome mais de 90% do
diesel utilizado em transportes no país e parece não despertar a atenção do
poder público que, ano após ano, lança programas de investimentos que, quando
saem do papel, não são concluídos ou não atendem àquilo a que se propuseram.
Estudo
divulgado em outubro de 2014 pela Confederação Nacional do Transporte (CNT)
aponta que 62,1% das principais rodovias do país apresentam problemas. A
pesquisa avaliou 98.475 quilômetros de estradas federais e estaduais, sob
administração pública ou concessão, o que equivale a 48,4% do total de vias
asfaltadas no Brasil (203.599 quilômetros). A alarmante diferença entre as
rodovias sobre os cuidados do governo federal e o setor privado é enorme. Nos
15,374 Km de vias sob concessão, 48% são ótimas, 38,9% são boas, 12% regulares
e apenas 1,1% são ruins. Nenhuma foi considerada péssima. Já nos 77,373 Km das
rodovias sob a gestão pública,
federal ou estadual, apenas 5,6% foram consideradas ótimas, 28,2% boas, 34,25%
regulares, 21,5% ruins e as péssimas chegam a 10,5%.
A pesquisa
ainda trata dos investimentos do governo federal em infraestrutura rodoviária
que apesar de terem crescido na última década, vêm apresentando desaceleração
desde 2011. Segundo o documento, foram efetivamente aplicados R$ 11,2 bilhões
naquele ano, R$ 9,3 bilhões em 2012, R$ 8,3 bilhões em 2013 e em 2014 foram
pouco mais de R$ 7,5 bilhões. Na verdade, o investimento necessário para
melhorar as condições das rodovias seria da ordem de R$ 290 bilhões.
Além disso, o
estudo aponta que, apenas em 2013, o custo com os 186.581 acidentes registrados
nessas rodovias foi de R$ 17,7 bilhões. Se todas as rodovias fossem boas, a
economia com combustível chegaria a 737 milhões de litros de diesel, o
equivalente a R$ 1,79 bilhão.
Sobreviver
nesse meio não é tarefa fácil: exige conhecimento, aplicação e paixão. Mas,
ultimamente estamos substituindo isso tudo por uma venda nos olhos para não
desanimarmos. Com isso, estamos colocando um tempero perigoso nessa receita já
um tanto quanto indigesta.
Se me
perguntassem como o modal rodoviário ainda resiste no Brasil eu responderia, de
uma forma poética, que é devido à “magia” da necessidade que produz a esperança
da transformação, mas, acima de tudo, aos “milagres” alcançados no dia a dia
através de um trabalho feito com dedicação e muito, muito jogo de cintura.
Porém, respondendo de uma forma prática, eu diria que não sei como. Apenas sei,
empiricamente, que estamos diante de uma bomba-relógio, onde as deficiências
dos demais modais aumentam junto com a demanda logística
e conduzem o modal rodoviário a uma situação que proporciona aumentos
significativos dos custos e dos perigos.
Concessões:
será esse o caminho? Planos responsáveis: ainda temos tempo para esperá-los?
Entre tantas perguntas, só uma palavra surge como resposta: mudanças.
Fonte: Marcos Aurélio da Costa
Grande Abraço.
Equipe Logos
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