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Racionamento
de energia e água pode agravar desempenho da economia e empurrar PIB para o
vermelho
A
crise hídrica, marcada a duas semanas pelo apagão que atingiu onze estados e o
Distrito Federal e pelo agravamento na situação de fornecimento de água nas
cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, tem potencial para empurrar o país de
vez para a recessão em 2015. As previsões mais otimistas para o ano apontam
para um desempenho modesto, entre zero e 0,5% de crescimento do PIB. As contas
entram no terreno negativo quando entra no cálculo o risco de racionamento de energia
e uma falta ainda mais grave de água nas grandes cidades do Sudeste por causa
dos reservatórios secos.
O
Banco J. Safra já fazia uma previsão pessimista para o PIB, de queda de 0,5%
por causa do provável racionamento de água em São Paulo e dos impactos da
operação Lava Jato nos investimentos da Petrobras. Dessa conta, 0,2 ponto
porcentual vinha da crise hídrica no Sudeste. “O que ainda não havíamos
incorporado era o racionamento de energia elétrica, que pode acrescentar 1
ponto porcentual à retração”, disse Carlos Kawall, economista-chefe do banco.
Cristiano
Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra considera que a queda adicional do
PIB depende da forma em que o governo operaria um possível racionamento.
“Acredito que a racionalização seria de 5% a 10% do consumo total de energia.
Se for isso, o efeito no PIB deve ser de -0,4 a -0,8 ponto porcentual”, disse.
Em 2001, o racionamento no governo FHC foi de 20% do consumo elétrico.
Na
última reunião do comitê macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades
dos Mercados (Anbima), anterior ao apagão ordenado pelo Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS) na última segunda-feira, a previsão de 0,2% da taxa de
crescimento do PIB já havia sido revista para baixo.
Em
apresentação sobre o tema, o economista Marcelo Carvalho, presidente do comitê,
disse que a ideia do grupo é que a questão do fornecimento de água tem impacto
abaixo de 1% do PIB. Já o possível racionamento de energia pode causar uma
queda de mais de 1%, dependendo da intensidade e duração de um racionamento.
“Uma coisa é ter 5% de corte de energia elétrica por seis meses. Outra coisa é
ter 20% de corte por um ano. Então depende da hipótese que se faça dentro
dessas possibilidades”, disse.
Confiança
A
evolução da crise hídrica é um dos componentes que afetam a confiança dos
empresários – o índice que mede o otimismo na indústria, por exemplo, atingiu o
menor nível desde 1999. Em janeiro, as chuvas na Região Sudeste, onde estão os
maiores reservatórios do país, estão novamente abaixo da média histórica, e o
nível dos lagos está em 17,2% da capacidade, menos da metade do registrado um
ano atrás. Desde outubro de 2013, quando a seca se agravou, a pluviosidade foi
abaixo da média em 13 meses, inclusive no chamado período úmido, que vai de
dezembro a abril.
Na
avaliação de Kawall, do J. Safra, os números já refletem o atual cenário ruim.
“Quando tem racionamento você corta a oferta e também a demanda. Pode ter alta
de desemprego por conta disso. Nesse quadro, consideramos que este é um dos
fatores a mais que vai levar à queda do PIB”, disse.
Oliveira,
do Fibra, destaca ainda que crises de fornecimento aumentam ainda mais os
custos de quem já produz. “O custo unitário de produzir no Brasil tem aumentado
nos últimos anos, seja por restrições de infra-estrutura ou de mão de obra”,
afirmou.
A
professora da FGV/Ebape Marilene Ramos afirma que já é possível perceber uma
mudança de comportamento dos empresários por conta do risco de racionamento.
“Já está ocorrendo uma movimentação das indústrias para adotar práticas de uso
consciente de água e energia. Este é o aspecto positivo da crise. A busca por
projetos de reuso que levem a uma economia”, afirmou.
Fonte:
Talita Boros Voitch (Gazeta do Povo)
Grande
Abraço.
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